sábado, 17 de fevereiro de 2007

Um interruptor do tronco cerebral

Uma série de estudos neurológicos tem permitido uma visão mais clara da maquinaria que controla a execução das emoções. Um dos mais valiosos desses estudos foi feito numa mulher que estava a ser tratada da doença de Parkinson.
Esta doença é um problema neurológico comum que compromete a capacidade de movimento normal. Antigamente a doença era incurável, mas desde alguns anos que tem sido possível aliviar o sintoma com medicamentos especializados, o problema é que nem todos os doentes reagem bem e passado algum tempo deixam de actuar.
Por esta razão, tem vindo a desenvolver-se outra modalidade de tratamento que requer a implantação de pequenos eléctrodos no tronco cerebral dos doentes, de forma a permitir a passagem de uma corrente eléctrica de baixa intensidade e alta frequência, que modifica a forma como os núcleos motores funcionam. Quando a corrente eléctrica passa, os sintomas desaparecem como que por magia. A colocação exacta dos eléctrodos é a chave do sucesso deste tratamento.
Uma equipe de médicos habituada a este tipo de operação, certo dia colocou os eléctrodos numa paciente de sessenta e cinco anos de idade que tinha uma longa história de parkinsonismo. De súbito algo inesperado aconteceu quando a corrente eléctrica passou por um dos contactos esquerdos, exactamente dois milímetros abaixo do contacto que miraculosamente acabava com a doença. A doente suspendeu a conversa que estava a ter, e a sua face transformou-se numa mascara de tristeza, começou a chorar, a soluçar e a proferir um discurso sobre a grande tristeza que a invadia, a exaustão que estava a sentir e o desespero que não a permitia continuar a viver desta maneira.


Os médicos suspenderam então a corrente eléctrica e um minuto depois o comportamento da paciente regressou ao normal não sabendo porque se tinha sentido assim.
A corrente eléctrica havia sido dirigida para núcleos do tronco cerebral que controlam as acções que, no seu conjunto, produzem a emoção a que chamamos tristeza. Este conjunto de acções inclui movimentos da musculatura facial; movimentos de boca, faringe, e diafragma necessários para o chorar e soluçar; e diversas acções que resultam na produção e eliminação de lágrimas.
Tudo se tinha passado como se um interruptor tivesse sido ligado dentro do cérebro como resposta ao interruptor que tinha sido ligado no aparelho. Tudo se tinha passado como num concerto instrumental, cada compasso executado na altura própria, de tal modo que o repertório de acções parecia manifestar a presença de pensamentos capazes de causar tristeza.


informação retirada do livro "Ao encontro de Espinosa" de António Damásio.

3 comentários:

Anónimo disse...

Acho o vosso trabalho muito criativo e organizado......gosto da sua apresentação e imagens...e
depois quero ver a vossa maquete!!

Anónimo disse...

Primeira impressão: apresentação linda, forte, mas tranquila e organizada. Perante 1 trabalho sobre sentimentos e emoções, o sorriso de agrado é inevitável. Depois...é ir lendo e aprendendo... Relato fascinante este da doente de Parkison! gostei muito! contem mais coisas!

Anónimo disse...

bem..passei por aqui ja algumas vezes e axo incrivel a maneira como tao a realizar o trabalho..esta uma apresentaçao fantastica..mta criatividade na escolha de imagens,etc.
escolheram um tema bastante interessante mas tem tanto de interessant como de dificil..bastante complexo..com mta coisa pa "dizr" =P
parabens a todas..e continuaçao de um excelente trabalho =)